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Wednesday, January 19, 2011

Pequeno Tratado de Parasitolgia, com um anexo sobre o Clio de Vida do Ascaris Lombrigoide

1. Só há uma explicação plausível para o espaço curvo e a matéria escura que, segundo a física moderna, constituem o nosso mundo: o universo é o cu de Deus. Só há uma explicação plausível para a existência dessas coisas meio esféricas que se movimentam sem cessar no dito universo, vulgarmente denominadas planetas e estrelas: Deus está com oxiúros. Se oxiúros é uma parasitose tipicamente infantil, é provável que Deus seja mesmo uma criança eterna e isso que chamamos de céu de anil (quando céu anal seria mais preciso) nada é senão o fundo de um vaso sanitário.

2. Só há uma explicação possível para o fato incontestável de o universo estar em expansão. Para onde? Perguntam os incautos. Como uma boneca russa, o universo é uma lombriga no intestino de uma tênia que vive dentro de uma giárdia que habita o intestino da espécie humana que parasita os oxiúros que parasitam o cu de Nosso Senhor. Quem sabe até mesmo essa criança sem higiene que chamamos de Deus não passe de outro verme, sugando nutrientes impossíveis do Nada e fazendo funcionar o grande ciclo da parasitagem cósmica.

3. Só há uma explicação plausível para toda essa tagarelice. Refiro-me ao lodo nas veias ao veneno parado em animal que se auto-inocula. Veneno que, inoculado em outro, não mata: contagia. A cidade é um grande organismo peçonhento – veneno circula nas suas tubulações.
Parasitas sobre parasitas sobre parasitas sobre parasitas. O universo é um parasita com parasitas em seu ventre com parasitas em seus ventres com parasitas em seus ventres.
Como é triste viver no Seu mundo, Criança Eterna. Sua língua é viscosa, dela saem palavras pesadas que caem e grudam no asfalto. Fala de betume, cosmologia de pesadelo que dura o tempo de Sua aproximação. Cu cheio de parasitas. Que não matam, contagiam.
A cidade é um parasita grudado na pele da terra. O humano é um parasita que circula sobre a cidade, ao estilo de bicho-geográfico. O ar é um parasita que passeia ao seu redor. O espaço é um parasita que se mistura ao corpo do ar. O universo é um parasita em expansão.
Os parasitas não fazem contrabando de nutrientes. É veneno o que eles procuram. Todo parasita é parasitado por outro parasita. Todo parasita devolve a outro parasita o que dele é parasitado. O veneno circula devagar e o preço da lentidão é a metamorfose do parasita em animal peçonhento. O veneno não mata, contagia.
O universo, quando recoberto pelos avanços de Sua fala em expansão, Criança Eterna Infestada de Oxiúros, é febrilmente vivo. Nele a morte circula. A forma humana de soltar o veneno é a fala. A fala envenena o ar. O ar pesado devolve, sob a forma de sombra viscosa e lenta, betume da linguagem, o veneno que nele foi inoculado sob a forma de palavras. O ar é uma dura carapaça recoberta por palavras venenosas, quando passeia sobre Sua pele.
Neste universo particular, parasitário e envenenado: o cosmopolitismo do podre. Ou talvez Deus tomou um ácido e pensa que é uma Criança Doente e o universo inteiro é sua bad trip.

4. Mas num dia de muita chuva eu jogo uma semente alucinada na consciência universal de Deus. Eu sou uma semente alucinada na consciência universal, mas ela não precisa de mim e segue seu curso. Ao contrário, eu é que me alimento dela como um autêntico parasita. A poesia é um fruto delicado oferecido às garras de rapina da consciência universal. Por isso, ó Criança cansada e moralista, não renegue a merda da consciência universal, simplesmente. Não parodie a palavra merda. A merda está cheia de sementes alucinadas na consciência universal. O Parasita das Alturas se fantasia de consciência universal com seu ninho de oxiúros, mas abriga em seu refugo algumas sementes alucinadas.


Anexo: O Clio de Vida do Ascaris Lombrigoide:
O ciclo de vida da lombriga completa-se em apenas um hospedeiro, por exemplo, um departamento universitário, fato do qual deriva sua classificação como parasita monoxeno. O homem adquire a ascaridíase ao ingerir representações de ovos de lombriga em práticas sociais mal-lavadas e retorno da narrativa contaminada. Ao atingirem a nota de rodapé, esses ovos liberam uma larva que perfura a parede intestinal das citações (vide Dr Penico Branco) e alcança o horizonte de expectativa. Através da circulação, as larvas atingem a alma, o coração e a ética do hospedeiro. Nos pulmões podem perfurar a semiótica dos alvéolos e subir pelos brônquios até atingir a licença-prêmio. São novamente deglutidas e, ao atingirem o estágio probatório, dão origem ao verme adulto que chega a ter cerca de 30 artigos de comprimento. Possuem sexos separados e reproduzem-se por orientação cruzada, sendo que os numerosos ovos formados são eliminados com as f(t)ezes. Caindo em local inadequado, podem contaminar alunos e a água que, ingeridos pelo homem, podem determinar o início de novo ciclo. A profilaxia dessa parasitose é feita através do tratamento do pó de giz e pelo cuidado com as letras impressas cruas, que devem ser sempre bem lavadas antes da ingestão.

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